Chegou mais um Dia das Crianças e nos esmeramos em presenteá-las com nosso amor, brincadeiras especiais, passeios, festas, presentes.
Mas qual seria o grande presente que poderíamos oferecer às nossas crianças, enquanto pais, educadores, avós, dindos, além do nosso amor?
Sou mãe. Tive a bênção de ter uma filha linda que completou 26 anos recentemente. Me considero uma boa mãe. Mas quais são minhas crenças e referências de boa mãe? Obviamente as que aprendi através da minha educação e do modelo de sociedade na qual estou inserida.
Uma boa mãe educa o filho para ser alguém na vida, para dar certo, para tirar notas boas, para ser feliz. Ser saudável, mas não precisa ser vegano, porque isso dá muito trabalho. Não fazer nada fora da curva, tipo morder o coleguinha de aula. Não demonstrar muitas emoções, especialmente quando estiver irritado e quiser dar “piti” chorando no supermercado na frente todo mundo.
Quanto mais aprendo sobre comunicação não violenta, mais percebo o quanto vemos nossos filhos como “massinhas de modelar”. Queremos filhos obedientes. Pessoas obedientes são seres autômatos, que concordam comigo, que não me desafiam, que não me incomodam, que não me fazem passar vergonha, que sejam educados, especialmente na frente dos outros.
Nossa educação nos ensina a agradar ao outro, não a nós mesmos. Aprendemos que seremos amados se fizermos tudo direitinho. Então temos duas escolhas: concordar ou nos rebelar. As duas escolhas são baseadas em atender nossas necessidades.
Se eu concordo atendo necessidades como ser amado, aceito, valorizado. E sou o filho querido, fácil de lidar. Se me rebelo atendo necessidades como liberdade, autonomia, autocuidado, escolha, independência. E sou o filho rebelde, do contra, difícil de lidar. Nas duas opções, atendo necessidades minhas que são importantes para meu bem estar e felicidade.
A questão é, em que momento ensinamos nossos filhos sobre sentimentos e necessidades, para que eles façam escolhas conscientes?
Onde está escrito naquela cartilha de bom pai e boa mãe, que seria bem melhor se meu filho aprendesse a reconhecer seus sentimentos e a falar sobre eles, ao invés de fazer coisas que me agradam para ser premiado com diploma de bom filho? Em que momento permitimos que expressem a sua verdade, sua essência, seu propósito, com a confiança de que serão aceitos e amados?
Se eu pudesse voltar atrás no tempo, uma coisa certamente eu mudaria na educação da minha filha: o modo como lidar com as suas emoções. E penso que este seja o grande presente que hoje, em sua fase adulta, eu esteja oferecendo, toda vez que percebo que algo não está bem com ela. Neste momento, minha atenção e foco vão totalmente para ela. Ligo meu botão da escuta empática, procuro acolher tudo o que ela fala e pensa sobre a situação, sem julgar se está certo ou errado, sem dizer o que eu faria no lugar dela. Aprendi que quando a pessoa está contando algo com emoção, o que posso fazer para acalmá-la e trazê-la para o centro, para que ela possa tomar as decisões certas, é escuta-la e validar tudo o que ela sente, para que se sinta acolhida sendo quem é de verdade. Um abraço e um estou aqui contigo para o que der e vier, pode ajudar mais ainda. E por fim quem sabe uma pergunta como: o que tu gostarias que eu fizesse para te apoiar. Entender que o que o outro faz não diz respeito a você, que ele não resolve dar “piti” para acabar com seu dia, mas porque tem algo o incomodando ao ponto de ele expressar isso de um modo que não agrada você. Talvez esteja cansado, com fome, com vontade de estar em outro lugar, preocupado com a prova de matemática, frustrado porque o amigo não deu bola para ele. Pode ser um pedido de socorro para que você preste atenção no que é importante para ele.
Quando está mais difícil de amar nosso filho, é quando mais ele precisa de amor.
Este amor não é dar um presente para aliviar suas tensões. Nem brigar com o pai da criança que bateu nele. Muito menos deixá-lo comer guloseimas. Este são alívios rápidos que não educam seu filho para aprender a cuidar dele mesmo.
Talvez esta seja a hora de ensinar a seu filho sobre reconhecer sentimentos e lidar com eles, sem precisar magoar nem machucar o outro. Ensinar que é permitido sentir raiva sim, mas tem que aprender o que fazer com ela, e certamente não é bater no outro.
O grande presente para nossas crianças é ensiná-las a lidar com suas emoções, a conversar para resolver seus conflitos, a respeitar o outro mesmo que ele pense diferente. Somente assim construiremos um caminho sólido para que exerçam seus diversos papéis no mundo adulto, com respeito, colaboração e compaixão. O futuro que queremos depende do que fizermos hoje, agora, sendo responsáveis e comprometidos.
Vivian Laube Mentora e Facilitadora de Comunicação Não Violenta Método – Vamos Aprender a Conversar @vivianlaubecnv 51 981260490
Sebastián León Prado
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